top of page

Trindade antes de Nicéia? Não mesmo! - Parte 02

De aproximadamente meados até o fim do segundo século, surgiram eclesiásticos que são hoje conhecidos por apologistas. Escreveram para defender o cristianismo, que eles conheciam, das filosofias hostis prevalecentes no mundo romano daquela época. Sua obra apareceu perto do fim, e depois, do período dos escritos dos Pais Apostólicos. Justino, o Mártir, Taciano, Atenágoras, Teófilo e Clemente, de Alexandria, estavam entre os apologistas que escreveram em grego. Tertuliano foi um apologista que escreveu em latim. Será que ensinavam a Trindade como é definida hoje de três pessoas co-iguais (Pai, Filho e Espírito Santo) numa Divindade, cada pessoa um Deus verdadeiro, sem que haja, contudo, três Deuses, mas apenas um Deus? “Essa relação foi entendida inequivocamente como de ‘subordinação’, i.e., no sentido de subordinação de Cristo a Deus. Toda vez que no Novo Testamento se considera a relação de Jesus com Deus, o Pai, . . . ela é imaginada e representada categoricamente como subordinação. E o mais decisivo subordinacionista do Novo Testamento, segundo o relato sinóptico, foi o próprio Jesus . . . Essa posição original, firme e manifesta como era, pôde ser mantida por muito tempo. ‘Todos os grandes teólogos pré-Nicéia representaram a subordinação do Logos a Deus.’” (The Formation of Christian Dogma, de Martin Werner, 1957, página 125.) A respeito de Justino, citamos de novo da obra de Lamson: “Justino considerava o Filho distinto de Deus, e inferior a ele: distinto, não no sentido moderno, como se formasse uma das três hipóstases, ou pessoas, . . . mas distinto na essência e na natureza; com subsistência real, substancial, distinta de Deus, de quem ele derivou todos os seus poderes e títulos; constituído debaixo dele, e sujeito à vontade dele em todas as coisas. O Pai é supremo; o Filho é subordinado: o Pai é a fonte do poder; o Filho, o recipiente: o Pai origina; o Filho, como seu ministro ou instrumento, executa. Eles são dois em número, mas concordam, ou são um, na vontade; a vontade do Pai sempre prevalece sobre a do Filho.” (The Church of the First Three Centuries, páginas 73-4, 76.) Apologistas como Taciano, Teófilo e Atenágoras, que viveram entre a época de Justino e a de Clemente, tinham conceitos similares. Lamson diz que “não eram melhores trinitaristas do que o próprio Justino; isto é, não acreditavam num Três indivisível, co-igual, mas ensinavam uma doutrina totalmente inconciliável com essa crença”. (Ibid., página 95.)

Por exemplo, Orígenes (c. 185 a 254 EC) declara que o Filho de Deus é “o Primogênito de toda a criação” e que as Escrituras “conhecem a Ele como a mais antiga das obras de criação”. (The Ante-Nicene Fathers, Volume IV, página 560) O Dr. H. R. Boer, em sua obra A Short History of the Early Church (Breve História da Primitiva Igreja), comenta o objetivo principal do ensino dos apologistas: “Justino e os outros apologistas, portanto, ensinavam que o Filho é uma criatura. Ele é uma criatura elevada, uma criatura suficientemente poderosa para criar o mundo, mas, não obstante, uma criatura. Na teologia, esta relação do Filho com o Pai se chama subordinacionismo. O Filho é subordinado, isto é, secundário ao Pai, dependente dele e causado por ele. Os apologistas eram subordinacionistas.” (A Short History of the Early Church, de Harry R. Boer, 1976, página 110.) Da mesma forma, no livro Gods and the One God (Deuses e o Único Deus), Robert M. Grant diz o seguinte sobre os apologistas: “A cristologia das apologias, como a do Novo Testamento, é essencialmente subordinacionista. O Filho é sempre subordinado ao Pai, que é o único Deus do Velho Testamento. . . . O que encontramos nesses autores antigos, pois, não é uma doutrina da Trindade . . . Antes de Nicéia, a teologia cristã era quase universalmente subordinacionista. " (Gods and the One God, de Robert M. Grant, 1986, páginas 109, 156, 160.)

Os apologistas e outros antigos Pais da Igreja refletiam em grande medida o que os cristãos do primeiro século ensinavam sobre a relação entre o Pai e o Filho. Note como isto é expresso no livro The Formation of Christian Dogma: “Na primitiva era cristã, não havia nenhum sinal de espécie alguma de problema ou controvérsia trinitária, como a que mais tarde produziu violentos conflitos na Igreja. A razão disso sem dúvida está em que, para o cristianismo primitivo, Cristo era . . . um ser do elevado mundo celestial de anjos, que foi criado e escolhido por Deus para a tarefa de trazer, no fim das eras, . . . o Reino de Deus.” (The Formation of Christian Dogma, páginas 122, 125.) A Enciclopédia Internacional da Bíblia Padrão, 1982, Volume 2, página 513 admite: “No pensamento mais antigo da Igreja, a tendência, ao se falar sobre Deus, o Pai, é entender que Ele é primeiro, não como o Pai de Jesus Cristo, mas como a origem de todo ser. Assim, Deus, o Pai, é como que Deus por excelência. A Ele pertencem descrições tais como sem origem, imortal, imutável, inefável, invisível e incriado. Foi Ele quem fez todas as coisas, incluindo a própria matéria da criação, a partir do nada. . . .“Isto pode parecer sugerir que o Pai é o único devidamente Deus, e que o Filho e o Espírito o são apenas secundariamente. Muitas afirmações antigas parecem apoiar isto."

Considere as palavras do Cardeal John Henry Newman, famoso teólogo católico: “Admitamos que todo o círculo de doutrinas, das quais nosso Senhor é o tema, foi coerente e uniformemente confessado pela Primitiva Igreja . . . Mas certamente é diferente com a doutrina católica da Trindade. Não vejo em que sentido se pode dizer que há um consenso das primitivas [autoridades eclesiásticas] em seu favor" . . .“Os Credos daquela época primeva não fazem menção da [Trindade] de forma alguma. Fazem menção, sim, de um Três; mas quanto a existir algum mistério na doutrina, que os Três são Um, que Eles são co-iguais, co-eternos, todos incriados, todos onipotentes, todos incompreensíveis, não está declarado e jamais se poderia deduzir deles." (An Essay on the Development of Christian Doctrine, do Cardeal John Henry Newman, Sexta Edição, 1989, páginas 14-18)

Se lesse todas as palavras dos apologistas, descobriria que, embora se tenham desviado em alguns pontos dos ensinos da Bíblia, nenhum deles ensinava que o Pai, o Filho e o espírito santo eram co-iguais em eternidade, poder, posição e sabedoria.

O mesmo se dá também com respeito a outros escritores do segundo e terceiro séculos, tais como Irineu, Hipólito, Orígenes, Cipriano e Novaciano. Embora alguns tenham igualado o Pai e o Filho em certos respeitos, em outros eles consideravam o Filho subordinado a Deus, o Pai. E nenhum deles sequer especulou que o espírito santo fosse igual ao Pai e ao Filho.

Uma leitura objetiva dessas antigas autoridades eclesiásticas mostra que a doutrina da Trindade, ensinada pela cristandade, não existia no seu tempo. Conforme diz a obra The Church of the First Three Centuries, páginas 75-76:

“A moderna doutrina popular da Trindade . . . não deriva apoio da linguagem de Justino: e esta observação pode ser estendida a todos os Pais Pré-Nicéia; isto é, a todos os escritores cristãos durante três séculos após o nascimento de Cristo. É verdade que falam do Pai, do Filho e do Espírito profético ou santo, mas não como co-iguais, não como uma só essência numérica, não como Três em Um, sentidos hoje aceitos pelos trinitaristas. O diametralmente oposto é a realidade. A doutrina da Trindade, segundo explicada por esses Pais, era essencialmente diferente da doutrina moderna. Isto afirmamos como fato tão irrefutável como qualquer fato da história das opiniões humanas.” Fonte adicional: Revista "A Sentinela" 01 de Abril de 1992, páginas 24-25


"para que as pessoas saibam que tu, cujo nome é Jeová, somente tú és o altíssimo sobre toda a terra. (Salmos 83:18)
bottom of page