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Apocalipse 3:14 - Princípio ou principiador?

Em Revelação (Apocalipse) 3:14, o Filho é chamado “o princípio da criação de Deus” (Al, ALA, IBB, So, BMD, LEB; NTR, NM, JRV e outras) “a origem de tudo o que Deus criou” (BLH) ou “o princípio das criaturas de Deus”. (MC) Os trinitaristas interpretam a expressão grega usada em Revelação 3:14 para “o princípio da criação de Deus” como significando “a origem (ou ‘fonte primária’) da criação de Deus”. Adotam a ideia de que se quer dizer que o Filho era ‘o principiador da criação de Deus’, que ele era a sua ‘fonte real’, o Príncipe ou Cabeça da criação. Muitos argumentam que isto significa que o Filho foi o Originador ou Autor da criação.

Em primeiro lugar, não é isto o que o texto está dizendo

Não é isto o que está escrito. O texto não usa a palavra “principiador”, “originador” ou “autor” da criação. Dizer que “princípio” significa “principiador” seria o mesmo que dizer que “construção” significa “construtor” – uma afirmação absurda! O fato de as traduções usarem a palavra “princípio” ao invés de “principiador” é outra evidência positiva de que esta é a tradução correta.

Segundo, a palavra grega usada significa “princípio” e não “principiador”.

No idioma em que João escreveu o livro de Revelação, a palavra grega é arkhé. Esta palavra ocorre 58 vezes no texto grego da Versão Autorizada ou Rei Jaime, inglesa, mas nunca foi traduzida como ‘iniciador’ ou ‘originador’. Em todos os escritos bíblicos do apóstolo João (um Evangelho, três cartas e a Revelação), ele usa a palavra grega arkhé 23 vezes, e sempre no sentido de “princípio”. Só na Revelação ele usa esta palavra grega 4 vezes, e em três casos, João a coloca em oposição ao “fim”. (Re 1:8; 21:6; 22:13, Al) Por isso não é coerente pensar-se que em Revelação (Apocalipse) 3:14 o apóstolo João mude o significado de arkhé de “princípio” para ‘iniciador’ ou ‘originador’.

O Greek-English Lexicon, de Liddell e Scott, alista “princípio” como o primeiro sentido de ar·khé. (Oxford, Inglaterra, 1968, p. 252) De acordo com The Expositor’s Greek Testament (O Testamento Grego do Expositor), para se compreender Revelação 3:14 como significando que Jesus é “a fonte ativa” da criação ao invés de ser a primeira pessoa criada, a pessoa precisaria interpretar arkhé “como na filosofia grega e na literatura de sabedoria judaica [não bíblica], = aitía ou origem”. Os inspirados escritores bíblicos, contudo, jamais tomaram idéias emprestadas da filosofia grega.

Até mesmo alguns trinitaristas admitem isso. O teólogo Albert Barnes diz a respeito da palavra grega ar·khé: “A palavra refere corretamente ao começo duma coisa, não à sua autoria, e indica corretamente primazia no tempo e primazia na categoria, mas não primazia no sentido de causar que algo viesse a existir. . . . Portanto, a palavra não é encontrada no sentido de autoria, como indicando que alguém é o princípio de alguma coisa no sentido de que fez com que viesse à existência.” — Barnes’ Notes of the New Testament, p. 1569.

Um que prefere a teoria do ‘principiador’ é o famoso perito grego Henry Alford. Todavia, em sua obra The Greek Testament (O Testamento Grego), Alford reconhece: “A mera palavra arkhé admitiria o significado de que Cristo é o primeiro ser criado: veja Gên. [49:]3; Deu. [21:]17; e Pro. [8:]22. E, assim os arianos o consideram aqui, e alguns que os têm seguido: por ex., Castálio, ‘uma obra-prima’: ‘omninm Dei operum excellentíssimum atque primom’: [significando “a primeira e a mais excelente de todas as obras de Deus”], assim como Ewald e ZüllIg.”

Outros textos corroboram que Jesus Cristo é o “princípio”

de todas as criações feitas por Deus

Jesus sempre falou de si mesmo como o Filho de Deus, o que prova que ele recebeu a vida de Deus, como seu Pai celestial. (Jo 10:36; 3:16; 5:26) Encarado do ponto de vista linguístico, o mero fato de que Jesus é o “Filho de Deus” indica um princípio, assim como o filho sempre é mais jovem do que seu pai. Quanto ao Pai, ele sempre existiu. A respeito Dele diz o salmista inspirado: “De tempo indefinido a tempo indefinido, tu és Deus.” (Sal 90:2) Não se pode dizer o mesmo a respeito do Filho, visto que esse termo indica algo diferente.

Em Colossenses 1:15, 18 (Al) está escrito, também, que ele “é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. E ele é a cabeça do corpo da igreja: é o princípio [arkhé] e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência”. Ser ele o “primogênito dentre os mortos” significa que ele mesmo esteve certa vez morto, e ser ele o “primogênito de toda a criação” significa que ele mesmo foi criado pelo seu Pai celestial. (Re 1:5, 17, 18; At 2:22-32) Alguns argumentam que “primogênito” aqui apenas significa que Jesus é o principal e não que realmente tivesse nascido. Mas, ainda assim, uma vez que ele é o primeiro ou principal da criação, então foi criado e teve princípio!

Note quão de perto essas referências à origem de Jesus se correlacionam com expressões feitas pela “Sabedoria” figurativa no livro bíblico de Provérbios: “Iahweh me criou, primícias de sua obra, antes de seus feitos mais antigos. Antes que as montanhas fossem implantadas, antes das colinas, eu fui gerada; ainda não havia feito a terra e a erva, nem os primeiros elementos do mundo.” (Pr 8:12, 22, 25, 26, BJ) Muitos comentaristas concordam que se faz referência ao Filho como sabedoria personificada, que se trata realmente de uma figura de linguagem que se refere a Jesus na sua condição de criatura espiritual anterior à sua existência qual humano. Nas traduções IBB, BMD e BJ, diz-se que aquele que fala ali foi “criado”.

Não é a Jesus Cristo, mas a Deus que o apóstolo Pedro aplica o título “Criador” (Ktístes; KtisthV) em 1 Pedro 4:19. Esta é o único texto em que ocorre este título nas Escrituras Gregas Cristãs. As criaturas no céu atribuem o ato da criação “Ao que está sentado no trono, Aquele que vive para todo o sempre”. (Re 4:9-11) Jesus não é ‘O que está sentado no trono’, mas sim o “Cordeiro”. (Re 5:1, 6-7, 13; 7:9, 10; 10:5, 6)

O próprio Jesus reconheceu que ele não era o Criador, mas sim o seu Pai. – Mt 19:4-6. Tomando-se tudo isso em conta, a própria Bíblia torna claro que Jesus Cristo, o Filho de Deus, não é o Criador, mas que o Deus Todo-poderoso, o Criador, cujo nome é Jeová, usou seu Filho unigênito como seu instrumento na criação de todas as outras criaturas ou criações. (Jo 1:1-3; Ef 2:10, 15; 3:9; Col 1:16, 17; Re 19:13)

Jesus Cristo é a mais antiga das criaturas de Deus, pois ele é o princípio da criação de Deus. A conclusão lógica é que aquele citado em Revelação 3:14 é uma criação, a primeira das criações de Deus, e teve princípio.


"para que as pessoas saibam que tu, cujo nome é Jeová, somente tú és o altíssimo sobre toda a terra. (Salmos 83:18)
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